Um conto popular de Macau, As árvores que ninguém separa, recolhido a partir da tradição oral, inicia-se com a seguinte narrativa:
Ruínas em Machu Picchu, no Peru.
O historiador trabalha com as fontes históricas estabelecendo relações entre passado e presente.
"Lá longe, lá longe, na aldeia de Móng-Há, vivia Lou Uóng, senhor
de algumas terras e de grande sabedoria.
As pessoas chegavam junto de Lou Uóng, e Lou Uóng sabia sempre a
resposta para todas as perguntas, a palavra para todos os momentos.
A palavra de paz e de harmonia.
A palavra de tempo justo.
A palavra das plantas e dos frutos.
A palavra doce e também a palavra amarga.
Todas as palavras da alegria.
Quando Lou Uóng respondia às perguntas, as pessoas sabiam que
podiam ter confiança naquelas palavras, porque eram as palavras certas."
Alice Vieira. Contos e lendas de Macau. São Paulo: SM, 2006. p. 8.
Os contos de maneira geral são relatos imaginários transmitidos de geração a geração e proporcionam momentos de lazer e de ensinamento para os ouvintes.
Ao reler o trecho acima, podemos partir para uma série de reflexões que nos ajudam a pensar sobre o conceito de História.
Alguém seria capaz de responder com exatidão a todas as perguntas que possam ser formuladas? O que é “tempo justo”? E, por fim: o que são “palavras certas”?
A História é uma ciência que investiga o passado da humanidade: “quem eram nossos antepassados?”, “como viviam os escravos?”, “quem inventou o automóvel?”, “o que é um disco de vinil?”, “como se usa uma ficha para telefonar?”, são algumas perguntas, entre muitas outras. Na maioria das vezes, basta pesquisar em livros ou na internet e já se obtém uma resposta; em outros casos, os estudos ainda estão sendo realizados ou não encontramos uma resposta exata,
como a dúvida sobre a origem dos nossos antepassados.
A História se relaciona com o tempo. Estudar História, portanto, é descobrir e aprender sobre a ação dos seres humanos no decorrer do tempo.
O tempo justo citado no conto difere do tempo histórico que está relacionado às mudanças que ocorrem nas sociedades. Para compreendê-lo, determinamos um período da História e estudamos suas características, considerando as transformações ocorridas e também o que permaneceu imutável.
O estudo da História, por outro lado, permite diferentes interpretações.
Dependendo da fonte que está sendo analisada, tem-se uma visão dos fatos que representa determinado grupo social. Nesse sentido, a partir de fontes documentais históricas, podemos conhecer, por exemplo, visões diferentes sobre as sociedades do passado: do grupo dominante, do grupo que foi dominado, de minorias, etc.
Por exemplo, a carta de Pero Vaz de Caminha, descrevendo o que viu ao aportar em terras brasileiras, em 1500, revela a visão de um europeu sobre um mundo desconhecido. Já uma lenda indígena brasileira que tenha sido transmitida oralmente por várias gerações pode ser um valioso documento histórico para nos dar pistas sobre como os povos que habitavam o atual Brasil, antes da chegada dos portugueses, interpretavam o mundo em que viviam.
Com relação às reflexões a respeito do conto popular de Macau e dos conhecimentos sobre os estudos historiográficos, podemos concluir que a História também é a “palavra para todos os momentos”, pois é a ciência que investiga as diferentes fontes.
O estudo da História se faz por meio de documentos. Qualquer registro cuja interpretação e análise permita ao historiador conhecer e compreender os fatos do passado pode ser considerado
um documento histórico. Geralmente, os historiadores trabalham com registros escritos, mas também podem trabalhar com outros tipos de registros ou fontes: imagens, objetos, filmes, etc. São consideradas fontes históricas todos os materiais que tornam possível “reconstituir” o passado.
Além de procurar documentos históricos, o historiador deve ainda fazer a crítica de tais materiais. A crítica histórica realiza-se em duas etapas. A primeira consiste em verificar se os documentos são autênticos ou não. Para isso, é necessário pesquisar a autoria, o tipo de escrita, o material usado, etc. A segunda etapa é comprovar se o conteúdo do documento é verdadeiro.
Atenção: um documento histórico pode ser autêntico, mas conter informações falsas.
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